Acessibilidade / Reportar erro

Insuficiência cardíaca no Brasil

Editorial

Insuficiência Cardíaca no Brasil

Francisco Manes Albanesi Fº

Rio de Janeiro, RJ

Em um dos próximos números de Arquivos Brasileiros de Cardiologia, estaremos apresentando o II Consenso Brasileiro de Insuficiência Cardíaca, atualizando os conceitos emitidos, em 1992, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Como os nossos dados epidemiológicos sempre são referidos aos do exterior, resolvemos apresentar os existentes no país, desta tão importante síndrome clínica, para a reflexão de nossos associados.

O Brasil, maior país da América do Sul, com 152.374.603 habitantes, com maior representação do sexo feminino - 77.733.590 (51,01%), tem a sua maior concentração populacional nas zonas urbanas (120.350.537 - 78,98%), sendo formado por 82.826.798 brancos, 61.119.137 pardos, 7.516.301 negros e os restantes entre amarelos, indígenas e sem declaração de cor. É um país jovem, pois 37,2% de sua população possuía até 1995 menos do que 34 anos, e com expectativa de vida de 62,28 anos para os homens e 69,09 anos para as mulheres 1.

Analisando os dados do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil nos últimos 5 anos (1993 a 1997) 2, observamos uma redução de 3 milhões no número total de internações realizadas no período, com diminuição proporcional entre as doenças do aparelho circulatório e as decorrentes da insuficiência cardíaca (IC). (tab. I) Tivemos no mesmo período, redução no número total de óbitos, por doenças do aparelho circulatório, porém com menor redução na mortalidade por IC (tab. II).

A IC foi responsável por 3,58% de todas as internações feitas em 1997, e por 36,95% das doenças do aparelho circulatório, com mortalidade de 6,39% entre os pacientes hospitalizados por esta síndrome. (tab. I e II).

O governo brasileiro despendeu R$ 3.205.852.023,26 para custear todas as hospitalizações ocorridas em 1997; as doenças do aparelho circulatório foram as que mais recursos consumiram (R$ 522.779.048,84) tendo a IC consumido R$ 149.597.516,52, ou seja, 4,66% de todos os recursos. As doenças do aparelho circulatório ocuparam, em 1997, o 3º lugar em freqüência, só sendo suplantadas por parto/gravidez/puerpério ( 3.110.379) e pelas doenças do aparelho respiratório (2.038.6622.038.662).

O tempo médio de permanência entre todos os pacientes (6,4 dias) foi similar aos com ICC (6,1 dias), porém menor do que o conjunto de todas as doenças do aparelho circulatório (7,4 dias) (tab. III).

A taxa de mortalidade global por IC foi de 6,27 no sexo feminino e de 6,5 no masculino, com a seguinte distribuição por faixa etária: de 0-19 anos (8,93 - feminina e 10,07 - masculina); 20-59 anos (4,54 - feminina e 5,71 - masculina) e acima dos 60 anos (6,97 - feminina e 6,76 - masculina).

Quanto à distribuição referente ao sexo e às faixas etárias (tab. IV), observamos serem iguais entre os sexos e mais freqüentes nas idades mais avançadas. Devemos mencionar que esta síndrome é mais encontrada a partir dos 60 anos, quando sua freqüência é maior do que o dobro da observada entre a população de adultos.

Quando analisamos as regiões brasileiras, verificamos que os maiores números de internações, óbitos e dias de permanência, em 1997, devido à IC, foram constatados na região sudeste, conforme pode ser observado na tabela V. Nessa região, encontramos 42,73% da população brasileira (62.740.401 habitantes, sendo 55.225.983 na zona urbana e 7.514.418 na rural) e com 177.989 (42,11%) das internações por IC, com 14.369 ( 53,14%) dos óbitos devidos a esta síndrome 1,2.

Assim, acreditamos que possamos compreender a importância desta síndrome, que representa a mais importante causa de internação entre as doenças do aparelho circulatório em nosso país.

Finalmente, podemos com os dados apresentados, responder algumas indagações: seria a insuficiência cardíaca relevante entre as doenças do aparelho circulatório no país?; qual o perfil do brasileiro que mais é acometido por esta síndrome?; qual sua mortalidade?; quanto despendemos para o seu tratamento? Esperando que cada leitor faça sua reflexão, do papel que podemos desempenhar para a sua redução, intensificando o tratamento das doenças que levam a esta síndrome e investindo em sua prevenção. O SUS tem abrangência de aproximadamente 110.000.000 de pessoas, acreditando-se que as restantes têm alguma proteção do sistema de seguro saúde privado; os dados referidos demonstram a importância da IC entre as principais causas de internação e óbito nas doenças do aparelho circulatório.

Referências

1. Anuário estatístico do Brasil/Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Volume 56, seção 2 - Saúde, 1996: 2-109 - 2-137.

2. DATASUS-TABNET - Morbidade Hospitalar do SUS. Mistério da Saúde. http://www.datasus.gov.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Jan 2007
  • Data do Fascículo
    Out 1998
Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@cardiol.br