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Prevalência do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e suas comorbidades em uma amostra de escolares

Prevalence of attention deficit hyperactivity disorder and its comorbidities in a sample of school-aged children

Resumos

O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é comum em crianças na idade escolar e freqüentemente apresenta-se em comorbidade com outros distúrbios psiquiátricos. No Brasil, há escassez de estudos em amostras não-clínicas. OBJETIVO: Calcular a prevalência deste transtorno e suas comorbidades numa amostra de escolares. MÉTODO: Estudo observacional analítico seccional realizado numa amostra de escolares do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Utilizou-se questionário de triagem seguido por entrevista clínica estruturada com os pais de crianças suspeitas de serem portadores do transtorno. RESULTADOS: A prevalência encontrada para o TDAH foi 8,6%. As comorbidades deste transtorno se mostraram presentes em 58% dos casos, sendo transtorno opositivo-desafiador, encontrado em 38,5% dos casos, o mais prevalente. CONCLUSÃO: A prevalência do TDAH e suas comorbidades na amostra estudada é semelhante àquela observada na literatura internacional.

transtorno do déficit de atenção e hiperatividade; criança; adolescente; comorbidade; prevalência


Attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) is a frequent condition in school-age children and commonly presents in comorbidity with other psychiatric diseases. In Brazil, there are few studies concerning non-clinical samples. PURPOSE: The present study aims to calculate the prevalence of this disorder and its comorbidities in a sample of school-age children. METHOD: Cross-sectional analytic study was conducted on a non-clinical sample of children and adolescents registered in 2003 in the elementary school of the Federal University of Rio de Janeiro. A screening questionnaire was used and parents of those possible affected children were invited for a clinical structured interview. RESULTS: The prevalence of ADHD was 8.6%. Comorbidities were present in 58% of the cases and oppositional-defiant disorder was the most common, found in 38.5%. CONCLUSIONS: The prevalence of the ADHD and its comorbidities in this sample is similar to that observed in the literature.

attention deficit disorder with hyperactivity; child; adolescent; comorbidity; prevalence


ARTIGOS

Prevalência do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e suas comorbidades em uma amostra de escolares

Prevalence of attention deficit hyperactivity disorder and its comorbidities in a sample of school-aged children

Giuseppe PasturaI; Paulo MattosII; Alexandra Prufer de Queiroz Campos AraújoIII

IMestre em Clínica Médica, Departamento de Pediatria, Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro RJ, Brasil (UFRJ)

IIDoutor em Psiquiatria, Professor Adjunto de Psiquiatria, Instituto de Psiquiatria URFJ

IIIDoutora em Neurologia, Professora Adjunta de Neurologia Pediátrica, Departamento de Pediatria, Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, UFRJ

RESUMO

O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é comum em crianças na idade escolar e freqüentemente apresenta-se em comorbidade com outros distúrbios psiquiátricos. No Brasil, há escassez de estudos em amostras não-clínicas.

OBJETIVO: Calcular a prevalência deste transtorno e suas comorbidades numa amostra de escolares.

MÉTODO: Estudo observacional analítico seccional realizado numa amostra de escolares do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Utilizou-se questionário de triagem seguido por entrevista clínica estruturada com os pais de crianças suspeitas de serem portadores do transtorno.

RESULTADOS: A prevalência encontrada para o TDAH foi 8,6%. As comorbidades deste transtorno se mostraram presentes em 58% dos casos, sendo transtorno opositivo-desafiador, encontrado em 38,5% dos casos, o mais prevalente.

CONCLUSÃO: A prevalência do TDAH e suas comorbidades na amostra estudada é semelhante àquela observada na literatura internacional.

Palavras-chave: transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, criança, adolescente, comorbidade, prevalência.

ABSTRACT

Attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) is a frequent condition in school-age children and commonly presents in comorbidity with other psychiatric diseases. In Brazil, there are few studies concerning non-clinical samples.

PURPOSE: The present study aims to calculate the prevalence of this disorder and its comorbidities in a sample of school-age children.

METHOD: Cross-sectional analytic study was conducted on a non-clinical sample of children and adolescents registered in 2003 in the elementary school of the Federal University of Rio de Janeiro. A screening questionnaire was used and parents of those possible affected children were invited for a clinical structured interview.

RESULTS: The prevalence of ADHD was 8.6%. Comorbidities were present in 58% of the cases and oppositional-defiant disorder was the most common, found in 38.5%.

CONCLUSIONS: The prevalence of the ADHD and its comorbidities in this sample is similar to that observed in the literature.

Key words: attention deficit disorder with hyperactivity, child; adolescent, comorbidity, prevalence.

A prevalência do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) varia entre 3 e 5% das crianças em idade escolar1, porém a prevalência se modifica de acordo com os critérios diagnósticos utilizados e o tipo de amostra estudada. No Brasil, há estudos utilizando critérios da quarta edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders2 (DSM-IV) que revelam prevalências distintas de TDAH em escolares, variando de 5,8 a 17,1%3-5. No Rio de Janeiro, em 2003, analisando portadores de TDAH em ambiente escolar, Vasconcelos5 encontrou freqüências de 39,1%, 37,7% e 23,2% para os tipos desatento, combinado e hiperativo, respectivamente. Em Porto Alegre, Rohde3, estudando adolescentes portadores de TDAH em escolas, observou uma prevalência de 52,2% para o tipo combinado, 34,8% para o tipo desatento e 13% para o tipo hiperativo.

A presença de comorbidades, mais de uma doença em um mesmo paciente, é um fator de confusão constante na avaliação de crianças portadoras de TDAH. A literatura mostra que cerca de 60% das crianças em idade escolar encaminhadas para tratamento apresentam distúrbios psiquiátricos comórbidos6-9. A identificação da condição comórbida é importante uma vez que ela repercute no prognóstico do paciente e seu tratamento é tão importante quanto o do TDAH1, 10 .

Em função dos poucos estudos brasileiros em amostras não-clínicas e de seus resultados heterogêneos, procuramos obter a prevalência de TDAH e suas comorbidades em uma amostra de escolares do município do Rio de Janeiro.

MÉTODO

O presente estudo foi realizado no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp/UFRJ) face à qualidade de seu corpo docente, ao perfil aberto à pesquisa, e à excelente estrutura que permite um fluxo adequado de informações entre pais, alunos, professores e equipe multidisciplinar de saúde.

O ingresso de alunos no Ensino Fundamental, desde 1998, consiste em sorteio público das vagas com definição de limites de idade. Para as vagas no Ensino Médio, o processo seletivo é dividido em duas fases. Na primeira, ocorre aplicação de provas de nivelamento em Português e Matemática com exigência de aproveitamento de 50% cada. Na segunda fase, há sorteio público de vagas para os aprovados na primeira fase.

Previamente ao início do estudo, havia uma demanda dos pais e professores do próprio colégio para o rastreamento e diagnóstico do TDAH. Desta forma, não houve a necessidade de palestras informativas a respeito da pesquisa no colégio.

Foram incluídos no estudo todos os alunos do Ensino Fundamental do CAp/UFRJ regularmente matriculados no ano de 2003 cujos responsáveis concordaram em participar do estudo. Por outro lado, foram excluídos todos os alunos do Ensino Fundamental do CAp/UFRJ que se desligaram do colégio ao longo do ano e aqueles cujos pais não permitiram a participação no estudo.

Na primeira etapa do estudo, todas as crianças do Ensino Fundamental receberam um envelope contendo: 1 (um) questionário de rastreamento para TDAH; 1 (um) questionário sócio-econômico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); 1 (um) termo de consentimento livre e esclarecido em duas vias; e 1 (um) termo de recebimento, onde também se explicitava a importância da participação de todos na pesquisa.

Da mesma forma, os professores do Ensino Fundamental receberam os questionários de rastreamento para TDAH.

Todos os professores do colégio foram informados pela direção a respeito da realização da pesquisa e cada turma possuía um professor de referência, com bom conhecimento do comportamento de cada aluno, para responder o questionário.

Dentre todas as escalas disponíveis para rastreamento de TDAH em populações11, optou-se pelo uso da SNAP-IV Rating Scale12. Os fatores preponderantes para sua escolha foram: a vantagem de ser auto-aplicável, viabilizando o preenchimento por pais e professores sem a presença do pesquisador; a ótima consistência interna atestada por Stevens13; o fato de ser uma escala baseada na DSM-IV; e a larga experiência de uso da mesma em grandes estudos internacionais, como o Multimodality Treatment of ADHD14, 15.

Procurou-se sensibilizar ao máximo a detecção de casos suspeitos com a utilização do SNAP-IV. Para isso, consideramos suspeito todo aluno cujo escore fosse positivo no questionário de pais ou naquele de professores. Assim sendo, apenas nesta primeira etapa, não levamos em consideração o critério C da DSM-IV, onde se enfatiza a necessidade de a criança apresentar sintomas em pelo menos dois ambientes diferentes de convívio, ou seja, concomitantemente em casa e na escola.

O termo de consentimento livre e esclarecido foi entregue em duas vias e os pais foram orientados a permanecer com uma cópia assinada em seu poder e a devolver a outra também assinada ao pesquisador.

Todos os pais e/ou responsáveis de alunos considerados suspeitos de serem portadores de TDAH através do SNAP-IV foram chamados para entrevista clínica, na qual se aplicou questionário semi-estruturado contemplando os critérios da DSM-IV para TDAH e suas comorbidades. O questionário utilizado foi o Children’s interview for psychiatric syndromes: parent version, conhecido como P-ChIPS16 e as comorbidades pesquisadas foram: transtorno opositivo-desafiador (TOD), transtorno de conduta (TC), tiques, depressão e transtorno de ansiedade generalizada (TAG).

Foram excluídos e encaminhados a serviços especializados alunos identificados com outras patologias psiquiátricas e/ou neurológicas.

O CAp/UFRJ forneceu um termo de aceitação da pesquisa e o projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da Universidade Federa l do Rio de Janeiro.

RESULTADOS

Na primeira fase da pesquisa, foram entregues envelopes contendo os questionários para todos os 381 alunos do Ensino Fundamental. Destes, 77 não foram incluídos na pesquisa pois os pais e/ou responsáveis não concordaram em participar do estudo.

Assim sendo, foram excluídos do presente estudo 77 alunos numa amostra de 381 alunos do Ensino Fundamental, o que representa uma perda de 20,20% da amostra inicial.

A fim de certificar que os alunos excluídos do estudo não diferiam dos alunos incluídos no mesmo, ambos foram comparados quanto à idade e sexo, conforme observado na Tabela 1. Houve uma maior quantidade de perdas nas turmas mais avançadas (Tabela 2).

Nas Figuras 1 e 2, comparamos a situação sócio-econômica das turmas do colégio com o perfil brasileiro levando-se em consideração renda familiar e escolaridade dos pais. Para tanto, utilizaram-se dados do Programa de Orçamentos Familiares (POF) e do Programa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) do IBGE17, 18.



Dos 304 questionários de rastreamento respondidos, foram considerados positivos 60 alunos, cujos escores encontravam-se acima do ponto de corte do instrumento, seja quando respondido por pais, seja quando respondido por professores. Nesta fase, a prevalência de TDAH foi estimada em 19,7%.

Os pais ou responsáveis pelos 60 alunos suspeitos de serem portadores de TDAH foram chamados para entrevista clínica com o médico pesquisador, na qual foi aplicado o questionário P-ChIPS.

Através desta entrevista, uma parte dos alunos não se confirmou como portadora de TDAH e 4 alunos foram referidos a serviços médicos especializados. Destes, 3 foram encaminhados a serviço de Psiquiatria Infantil devido à presença de quadros de depressão e ansiedade clinicamente significativos, que poderiam explicar melhor a sintomatologia apresentada. Outro aluno foi encaminhado a serviço de Neurologia Infantil em virtude de apresentar história prévia de acidente vascular encefálico, que também explicava melhor o quadro de desatenção e hiperatividade. Em suma, estas quatro crianças foram excluídas por não atenderem ao critério "E" da DSM-IV.

Nenhum aluno portador de TDAH apresentava epilepsia no momento da avaliação nem havia iniciado tratamento com medicação estimulante.

Após a realização de entrevista clínica com pais e responsáveis com checagem dos critérios diagnósticos da DSM-IV, foram confirmados 26 alunos como portadores de TDAH, fornecendo uma prevalência final de 8,6%. Destes, 88% (n=23) eram do sexo masculino e 12% (n=3) eram do sexo feminino. Se considerássemos todos os excluídos como sendo não-portadores do transtorno, a prevalência na amostra total (381 alunos) seria um pouco menor: 6,8%.

A Figura 3 mostra o número de alunos do Ensino Fundamental com diagnóstico de TDAH através do questionário de rastreamento (SNAP-IV) e do questionário semi-estruturado (P-ChIPS).


As comorbidades psiquiátricas do TDAH se mostraram presentes em 58% dos casos, sendo o transtorno opositivo-desafiador, encontrado em 38,5% dos casos, o mais prevalente.

Na Tabela 3, estão representadas as comorbidades encontradas nos portadores de TDAH. Importante ressaltar que nenhum aluno atendeu a critérios para transtorno de humor bipolar, apenas para depressão.

O tipo de TDAH mais prevalente foi o desatento, seguido pelo combinado e hiperativo, com freqüências de 53,8% (n=14), 27% (n=7) e 19,2% (n=5), respectivamente.

DISCUSSÃO

A perda total nas respostas ao questionário de rastreamento foi de 20,2%, valor que não é o ideal, porém situa-se no limite de aceitabilidade para estudos clínicos. A comparação do grupo de alunos incluídos e excluídos no estudo (Tabela 1) demonstra que não há diferença estatisticamente significativa entre ambos no que concerne a sexo, idade e desempenho escolar em Matemática e Português, mostrando que as perdas não alteraram a composição da amostra estudada.

Não existe uma explicação definitiva para o maior número de perdas observado nas séries mais avançadas (Tabela 2). Uma das explicações possíveis refere-se ao fato de que exista uma menor quantidade de portadores de TDAH neste grupo, uma vez que este grupo foi admitido no colégio através de prova e não através de sorteio como nas turmas mais novas. Assim sendo, portadores de TDAH, que freqüentemente possuem baixo rendimento escolar19, não seriam admitidos em um sistema de provas. Por fim, uma menor quantidade de indivíduos com TDAH demandaria uma menor procura por tratamento especializado e, conseqüentemente, uma menor disposição em participar de uma pesquisa com finalidade diagnóstica. Supondo-se que todos os que compuseram a perda não tivessem TDAH, a prevalência seria de 6,8%.

A prevalência de TDAH encontrada, entretanto, fica abaixo daquela encontrada em pesquisas feitas em escolas fora do Brasil20-21, que se situam em torno de 16%. Cabe aqui ressaltar que estes estudos utilizaram o inventário de sintomas para o diagnóstico de TDAH, sem levar em consideração todos os critérios da DSM-IV.

A maioria dos estudos publicados até o momento mostra uma proporção de TDAH maior entre crianças do sexo masculino do que entre aquelas do sexo feminino, com razões variando entre 3:1 em amostras populacionais22 e 10:1 em amostras clínicas23. No Brasil, não se evidenciou diferença de prevalência de TDAH entre os sexos em amostras de escolares3, 5. Assim sendo, a razão observada no presente estudo (7,6:1) é concordante com a literatura mundial, apesar de não ser com os trabalhos publicados no Brasil, onde a proporção entre os sexos é igual3, 5.

Dentre os tipos de TDAH, predominou o desatento como descrito para amostras não-clínicas na literatura internacional24,25. Apesar de a amostra ser eminentemente masculina, houve uma predominância deste tipo, mais associado ao sexo feminino26.

Como inúmeros estudos já demonstraram, TOD é a comorbidade mais comum nos pacientes com TDAH e a prevalência encontrada nesta amostra é semelhante àquela de estudos realizados no Brasil e no exterior7,26-28. De uma maneira geral, pode-se dizer que a comorbidade com os transtorno externalizantes da infância (transtorno opositivo-desafiador e Transtorno de Conduta) é a de maior freqüência nos portadores de TDAH, variando, em conjunto, de 42,7 a 93%28.

Enquanto estudos realizados fora do Brasil27 encontram prevalências de transtorno de conduta nos portadores de TDAH entre 30 e 50%, os trabalhos realizados no país mostraram uma prevalência de TC um pouco menor, variando entre 15,4 e 39%7,8. Na amostra de portadores de TDAH do CAp/UFRJ, a prevalência de TC foi ainda menor: 3,8%.

Algumas explicações são possíveis para a disparidade entre a prevalência de TC no CAp/UFRJ e nos demais estudos realizados no Brasil e no exterior.

A primeira consiste na dificuldade em se aplicar os critérios diagnósticos deste transtorno na população brasileira. Itens como "matar aula", "mentir para conseguir o que deseja", "fugir de casa" são considerados graves para a população norte-americana e configuram um transtorno, enquanto que não têm o mesmo valor na sociedade brasileira. Assim, a prevalência de TC no Brasil pode realmente ser menor que fora do país.

A segunda explicação possível é o fato de que o aluno com TC tende a não permanecer em uma escola com critérios rigorosos como o CAp/UFRJ, sendo expulso ou reprovado rapidamente. Daí a menor prevalência deste transtorno na escola.

Estudos mostram que 60% dos pacientes com Transtorno de Gilles de La Tourette também têm TDAH29. Por outro lado, Biederman observou que 17% dos portadores de TDAH apresentavam tiques, não necessariamente Gilles de La Tourette10. Em nosso meio, Rohde observou uma associação de 3,5% de portadores de TDAH com tiques8. No presente estudo, a comorbidade com tiques foi encontrada em 15,4% dos alunos portadores de TDAH, valor semelhante aos 17% encontrados por Biederman10, porém maior que os 3,5% encontrado por Rohde no Brasil8.

A prevalência de depressão em crianças portadoras de TDAH varia entre 15 e 75% na literatura internacional27, 30. Na amostra do Cap/UFRJ, encontramos depressão em 11,5% dos alunos com TDAH, valor semelhante àquele dos trabalhos brasileiros, que situam esta prevalência entre 13,7 e 14%7,8.

A prevalência de TAG em portadores de TDAH30 se situa em torno de 25%. Em amostra clínica, Rohde encontrou esta associação em 21,8% dos portadores de TDAH8. Na amostra do Cap/UFRJ, a prevalência de TAG esteve abaixo destes valores. Esta diferença talvez se deva às dificuldades inerentes aos critérios para se diagnosticar este transtorno na infância, tais como dificuldades dos pais em distinguir os sintomas do TDAH daqueles do TAG (inquietude; imediatismo para resolver tarefas; ficar se mexendo quando preocupado; e repetição de um mesmo assunto).

Desta forma, concluímos que a prevalência de TDAH na amostra estudada é semelhante àquela dos demais estudos realizados no país e a freqüência de comorbidades, principalmente com TOD, é relevante. Isto reforça a necessidade de pronto diagnóstico e tratamento, visando melhor prognóstico dos portadores de TDAH.

O fato de o estudo utilizar uma amostra de conveniência e possuir caráter local limita a extrapolação dos dados para a população em geral. Entretanto, a utilização de amostra não-clínica de uma escola onde a entrada se faz por sorteio permite uma extrapolação maior que outros estudos nacionais realizados em amostras clínicas. Além disto, é possível extrapolar os dados observados neste trabalho para uma faixa específica da população: aquela de maior renda familiar e nível educacional dos pais, que é o grupo formador dos alunos do CAp/UFRJ.

10. Biederman J, Newcorn J, Sprich S. Comorbidity of attention deficit hyperactivity disorder with conduct, depressive, anxiety, and other disorders 1991;148:564-577.

Recebido 11 de Maio 2007, recebido na forma fi nal 26 Julho 2007. Aceito 23 Agosto 2007.

Dr. Giuseppe Pastura - Rua das Laranjeiras 314 / 802 / Bloco B - 22240-006 Rio de Janeiro RJ - Brasil. E-mail: giuseppe.pastura@terra.com.br

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Dez 2007
  • Data do Fascículo
    Dez 2007

Histórico

  • Recebido
    11 Maio 2007
  • Revisado
    26 Jul 2007
  • Aceito
    23 Ago 2007
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